É com algum desânimo (ou talvez nem por isso) que vos venho hoje comunicar que desisti de tentar aplicar o novo acordo ortográfico. Tentei, com árduo esforço, corrigir os ímpetos da rotineira escrita, tão enraizada no meu cérebro.
Mas a verdade é esta: demoro o triplo do tempo a escrever o que quer que seja. Olho para as palavras e parecem-me feias e deturpadas. E, se na escrita por computador é simples corrigir, quando se trata de papel e caneta, a coisa muda de proporção.
Tentei ver o lado bom da questão. Esforcei-me por pegar nas críticas que as pessoas andam a fazer ao acordo e mostrar outra perspectiva. Mas o património cultural que vive dentro de mim fala cada vez mais alto.
Cada vez me revolta mais a fraca personalidade dos nossos líderes. A constante necessidade de agradar a gregos e troianos... Ou a brasileiros e angolanos, melhor dizendo.
Sim, somos um país pequeno e pobre. Mas, para além de estarmos condenados à imagem amarelecida d'Os Descobrimentos e termos que admitir que a fama actual do nosso povo se resume a três ou quatro nomes do Futebol, a uma boa gastronomia e a uma péssima, mas célebre, gestão político-económica, ainda temos que nos rebaixar perante quem destruiu a nossa língua. Temos que abdicar das nossas regras gramaticais e da etimologia para nos assemelharmos àqueles que mutilaram a Língua Portuguesa ao sabor do analfabetismo e da falta de brio.
Destarte, cessam aqui todos os meus esforços pela harmonização às regras de um acordo que não aceitei, quer expressa quer tacitamente.
Post Scriptum: Será que alguém está a ver os ingleses a abdicar do seu sotaque para falar o Inglês dos americanos? Ou a passarem a escrever "colour" sem o
u só porque é assim que os americanos decidiram escrever? Pois... Também me parece que não.