Advertência

A Esquizofrenia Cor de Rosa é um espaço onde são despejados pensamentos, o mais inalterados possível da sua forma primordial. Não se pretende aqui construir um "cantinho" de discussão científica, filosófica, religiosa, histórica ou de qualquer outra índole. A realidade dança o tango com a ficção; o senso comum luta com a ciência, numa batalha onde ninguém sairá vencedor. Cabe-lhe a si, leitor, interpretar da maneira que lhe aprouver. Sinta-se livre para comentar, criticar ou lançar sugestões!

sexta-feira, maio 27, 2011

A caminhada dos coitadinhos



Depois de tanto tempo sem manifestações ideológicas de qualquer índole, parece que será de exigir um texto com uma qualidade para além do razoavelzinho, pelo que decidi expor hoje mais um pensamento controverso que cogito há uns aninhos.

Pois bem, chegou a vez da religião.

Não fiquem já com a falsa ideia de que venho para aqui criticar as histórias mirabolantes e tão criativamente elaboradas da Bíblia, ou que acho que deviam deixar os muçulmanos resolver os seus assuntos sem intervenções norte-americanas ou europeias (o mesmo será dizer "deixar que se matem uns aos outros"). Nada disso.

Venho somente expressar o meu repúdio pelos ditos católicos não praticantes que, na altura de aflição extrema, se agarram à Nossa Senhora de Fátima a pedir o que calha, quais crianças de cinco anos que se sentam no colo de um velho com barbas postiças num centro comercial em dezembro.

Quando alguém tem um acidente grave e sobrevive com sequelas minimais, todos dizem "graças a Deus!", porque foi n'Ele que estiveram a pensar na sala de espera. Tal como todo o estudante medíocre reza para passar no exame que está prestes a começar... Ou quando alguém que tem medo de alturas mas se quis aventurar numa experiência radical, só se lembra de dizer "ai meu Deus".

Ninguém na sala de espera está a pensar se os médicos que estão a cuidar do sinistrado são profissionais competentes; nenhum estudante sente o peso de consciência por não ter estudado o suficiente até ver a nota, nem ninguém que se mete a fazer bungee jumping vai perguntar aos homens que o estão a prender às cordas se tiraram alguma formação especializada na área e se todo o equipamento preenche os requisitos de segurança (até porque, se o fizesse, respondiam que sim a tudo com um grande sorriso, mas não haveria papelada para comprovar).

E isto tudo para dizer o quê? Que sinto uma náusea quando penso nas pessoas que subitamente ganham fé em alguma coisa (e digo alguma coisa porque em Deus não será) quando estão à beira da catástrofe e decidem fazer um acordo com Deus, decidindo ir a pé para Fátima se os seus problemas desaparecerem no espaço de um mês ou dois. Sim, porque esta gente não quer saber das prioridades do Senhor. Se há um pacto para ir a pé para Fátima, ganha logo um ponto de exclamação vermelho na caixa de correio da santíssima trindade.

Não sou ateia, nem agnóstica, nem coisa nenhuma. Mas a hipocrisia não tem religião. E acho que quem está em desespero e quer algo do universo, devia orientar-se pelos pretensos princípios do catolicismo. Como quem diz, em vez da caminhada até Fátima, que decidam ser melhores dali para a frente. Que decidam amar a vida, ajudar os outros, fazer coisas úteis.

Agora, ir a pé para Fátima em troca de um milagre, na minha opinião, para além de banalizar a religião, é ver Deus como um usurário (sovina, para os leigos)... A não ser que se queira fazer uma grande caminhada para emagrecer uns quilinhos ou ir visitar o santuário sem pagar portagens nem gastar dinheiro em combustível. Mas, nesse caso, não venham dizer que é para pagar uma promessa ao Senhor. Porque, quem acredita nessas coisas da religião acredita também que o que se faz nesta vida se paga com boas ações e se julga na altura da morte.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ora e tenho dito......ou melhor escreveste tu.....adorei e é assim que penso também

CoisasDaGaja disse...

Não podia estar mais de acordo! Também eu algumas (cada vez menos!) vezes sou apanhada com o Deus na boca! Salvo seja.
Mas tem também a ver com a questão da educação. Fui criada na "benção do Senhor" e não é fácil perder o vicio do "valha-me deus" ou do "graças a deus". Tenho combatido isso e as expressões saem cada vez menos. Graças a deus! eheheheh! relativamente às religiões, acho que nenhuma me convence porque todas são "traduzidas e interpretadas" pelo Homem. E não há ser mais imperfeito nem mais hipócrita.
Confesso-me agnóstica (aqueles que não afirmam nem negam a existência de uma divindade superior. Ao contrário dos ateus que negam a existência desse ser). E tenho a minha religião. Acredito na força da natureza. E na vida. De resto, só eu sou juiz de mim.