Advertência

A Esquizofrenia Cor de Rosa é um espaço onde são despejados pensamentos, o mais inalterados possível da sua forma primordial. Não se pretende aqui construir um "cantinho" de discussão científica, filosófica, religiosa, histórica ou de qualquer outra índole. A realidade dança o tango com a ficção; o senso comum luta com a ciência, numa batalha onde ninguém sairá vencedor. Cabe-lhe a si, leitor, interpretar da maneira que lhe aprouver. Sinta-se livre para comentar, criticar ou lançar sugestões!

sexta-feira, março 26, 2010

Boa Educação



Certo é que o tempo da etiqueta resume-se, hodiernamente, a uma penumbra do que era há umas décadas atrás. Hoje o que interessa é dar nas vistas, quer seja pelo exibicionismo, quer seja simplesmente pela falta de gosto e de tacto. Não estou a falar sequer dos mitras, gunas, labregos, ou de qualquer outro grupo social que prima pela sua especial falta de maneiras (entre tantas outras coisas de que carecem). Falo, sim, da grande maioria da juventude, onde ainda se incluem pessoas de faixas etárias mais avançadas. Isto porque, graças a Deus, a má educação está por todo o lado e não escolhe idade.

E é engraçadíssimo que muita gente que não sabe o que são talheres de peixe e acha que cuspir e escarrar para o chão é um hábito saudável, muitas vezes ainda manda o seu bitaite quando alguém lhes aponta um erro gramatical que seja, agredindo verbalmente a pessoa em causa. O sujeito rude acha sempre que quem lhe emenda uma conjugação verbal mal feita está a armar-se em superior, quando na verdade é ele quem se acha o maior, sem qualquer fundamento palpável.

A meu ver, o cúmulo dos pretensos cavalheiros e meninas que se armam em chiques é a típica expressão «Oi, tudo bem?» frequentemente utilizada no início de uma conversa, mas também naqueles mini-diálogos que surgem quando nos cruzamos na rua com uma cara conhecida. E pergunto eu: quem foi o idiota que convencionou o uso desta frase como símbolo de boa educação?

Gente: a boa educação nunca poderia ter como base a hipocrisia! Sim, porque a esmagadora maioria das pessoas que perguntam se está tudo bem estão-se nas tintas para os problemas que estamos a vivenciar. Elas acham simplesmente que estão a fazer um figurão ao acrescentar «tudo bem?» à comum saudação que se exige quando encontramos um conhecido.

Será que ninguém se apercebe do ridículo que é andarmos às compras a correr contra o relógio em época natalícia e cumprimentar alguém, que está naquele momento a usar as escadas rolantes no sentido inverso ao nosso mas igualmente super-povoadas e ficar na dúvida entre responder «Sim, está tudo bem. E contigo?», sendo que a segunda frase já terá que ser pronunciada num tom de voz próximo do grito, ao mesmo tempo que quase fazemos um torcicolo para ouvir a resposta da pessoa; ou simplesmente dizemos a verdade, e expomos as nossas aflições ali no meio da multidão, igualmente aos gritos e a olhar para trás. Obviamente que esta situação hipotética nunca se verifica, pois toda a gente sabe que se responde «sim, obrigada. E contigo?», uma vez que a seguir vem sempre a mesma palavrinha: «Também.». E a conversa termina ali.

Toda a gente utiliza o messenger. Nunca se depararam com aquela situação em que mal entram no messenger, cinco ou seis pessoas abrem uma janela convosco, e perguntam todas se está tudo bem? É aflitivo! Irritante, até. Dá-me sempre vontade de os mandar a todos à #%$&" porque é saturante ter aquela conversa do exemplo das escadas rolantes em qualquer situação, mesmo em frente ao computador, onde não é necessário elevar a voz, nem mover o pescoço para posições desconfortáveis.

Dizem-me frequentemente que tenho que me acalmar, somente por explicar que é impossível estar tudo bem, pois a insatisfação faz parte da natureza humana. Além disso, são muito poucas as pessoas com quem nos sentimos suficientemente à vontade para expor os problemas assim à toa, mal começamos a conversar. 
Estarei assim tão errada? Será que o que digo faz parte apenas do meu mundo e mais ninguém se vê nesta situação? Por que raio me bombardeiam com  conselhos de combate ao stress só porque manifesto o meu descontentamento com as práticas da sociedade que aos meus olhos não fazem sentido?

Acho que a boa educação implica pedir licença quando queremos sair da sala e temos companhia, mastigar com a boca fechada, prestar atenção ao que os outros dizem sem interromper... E por aí adiante. Alguém que cumpra estas regras e não me pergunte se está tudo bem após me cumprimentar, aos meus olhos não é mal educado. Normalmente deparo-me com o inverso. Autênticos selvagens que se consideram educados por utilizarem a maldita expressão. E é este o mundo em que vivemos.

1 comentário:

Anónimo disse...

nao pedi licença pra entrar....mas ate acho que foste tu que me abrist a porta, portanto muito obrigada
Da "prazer" ler um texto bem construio e sobre um tema pertinente da nossa vivencia....espero que muita gente o leia.
e ja sabes quando quiseres segredar-m ao ouvido as tuas magoas sem eu te precisar de perguntar se esta tudo bem....nao penses duas vezes estarei presente pra isso