Ir ao hipermercado já não é a mesma coisa. Hoje em dia perco-me no corredor dos cereais. Para encontrar os meus Chocapic, ponho os olhos em cima de 50 variedades de cereais. Já nem os típicos cereais de dieta (que têm praticamente tantas calorias como os outros) se cingem aos flocos integrais e àquela espécie de batata frita palha, que mais me parece comida de galinhas. Parece-me incrível que cereais de dieta tenham chocolate de leite... Mas posso ser só eu a dar em doida ou simplesmente a ser vítima da publicidade enganosa.
No corredor dos iogurtes encontro o puro sofrimento. Para encontrar iogurtes líquidos ou iogurtes com pedaços, entro em hipotermia. Há iogurtes de soja para quem não pode consumir leite; há iogurtes sem lactose, para quem não pode consumir leite mas o quer consumir na mesma e não está com paciência para sentir o cheiro a ovos e a couves nas horas subsequentes, seguido de uns bons três quartos de hora a ler jornais na casa de banho; há iogurtes para crianças, para bebés, para mulheres na menopausa, para gente com prisão de ventre, para gente com osteoporose, para gente com hipercolesterolémia e ainda para gente com hipocondríase.
Nem na secção dos aperitivos uma pessoa pode fazer compras tranquilamente. Já não há batatas fritas com sabor a batatas fritas. Temos batatas fritas picantes, de churrasco, camponesas, rústicas, gourmet, de picanha, tosta mista, ketchup, cheeseburger... Meu Deus! E o mais caricato é que, apesar de todos estarmos fartos de saber que os fritos fazem mal e que os fritos industriais são ainda piores por causa dos óleos manhosos queimados, as batatas fritas surgem com uma pirâmide da alimentação equilibrada no verso da embalagem. Querem enganar quem?
A filosofia das batatas também se estendeu para a água. Ainda me lembro da altura em que, quando se pedia uma água num café, o empregado apenas tinha que se preocupar em questionar-nos se queríamos água fresca ou natural, com ou sem gás. Nos dias que correm é só águas com sabores, com mais gás ou menos gás; águas vitaminadas; garrafas de água para viagem, para crianças, para desportistas... Águas de spa com sabor a ervas e águas estrangeiras que custam mais que vinho, mas sabem muito pior que as nossas.
Nem a pobre da cerveja escapou a esta explosão de variedade. Desde a cerveja sem álcool, que tem álcool na mesma, mas em teor quase imperceptível, à cerveja green, ou seja, verde (que me parece ser amarela mas se calhar é só a mim), às rústicas, aos panachés, à cerveja preta, à ruiva e à loira... E acabando na invenção das cervejas com sabor a fruta. É, claramente, a invasão da comunidade homossexual no mercado. Não sou apreciadora de cerveja. Mas se fosse, acho que a quereria de uma só maneira: com MAIS álcool. Ora, se é para beber e ficar alegre, se a cerveja é mais diurética que a água, mais vale beber uma ou duas concentradas e fazer logo a festa. Hei-de fazer chegar esta minha visão aos produtores de cerveja nacionais. E, quem sabe, um dia a ideia pegue no resto do mundo.
Por fim, reflicto sobre a FALTA de variedade no mercado do leite. Sim, é verdade que agora há leite com mais cálcio, leite de soja, leite de fácil digestão, etc.. Mas, a bom ver, o teor de gordura no leite nunca mudou. A partir do leite gordo, fez-se o meio-gordo e o magro. E assim se ficou. Eu considero que o melhor leite se encontra na mistura em iguais partes de leite magro e meio-gordo. Leite meio-magro, vá. Acho um escândalo no mundo dos lacticínios lembrarem-se que até daria jeito ter na dispensa um pacote de natas de cogumelos ou natas de queijo, natas meio-gordas, natas leves e natas levíssimas. Mas no que toca ao leite, que supostamente é um alimento que se consome mais que uma vez por dia, ainda não tiveram a ideia de emagrecer o leite meio-gordo, mas não até ao ponto de parecer que alguém pegou num pacote vazio de natas, o encheu com água e agitou muito bem.
Onde o fútil, o inútil e o insignificante ganham forma... Dentro de uma perspectiva cor de rosa.
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A Esquizofrenia Cor de Rosa é um espaço onde são despejados pensamentos, o mais inalterados possível da sua forma primordial. Não se pretende aqui construir um "cantinho" de discussão científica, filosófica, religiosa, histórica ou de qualquer outra índole. A realidade dança o tango com a ficção; o senso comum luta com a ciência, numa batalha onde ninguém sairá vencedor. Cabe-lhe a si, leitor, interpretar da maneira que lhe aprouver. Sinta-se livre para comentar, criticar ou lançar sugestões!
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